terça-feira, 13 de maio de 2008

Por enquanto, todo brasileiro pode se dar ao luxo de matar pelo menos uma vez na vida



Alfred Hitchcock, gênio insuperável do suspense, assinatura em filmes que são verdadeiras obras-primas, dizia que, sim, “existem crimes perfeitos ; e, por serem perfeitos, jamais serão descobertos”. Tenho certeza que, definitivamente, não é este o caso da tragédia que envolveu a pequena Isabella Nardoni, brutalmente assassinada.
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Desde que voltei do México, essa novela horrível que envolve um pai com olhar de psicopata e uma madrasta idêntica a das fábulas mais perversas, tem prendido não só a minha como a atenção de todos os brasileiros. E, ao mesmo tempo, tem criado situações lamentáveis de autopromoções e marketing pessoal. Do mais pobre ao mais letrado, teve todo tipo de gente plantada em frente ao edifício da zona norte, acompanhando in loco o desenrolar do caso.
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Estranhíssimo, mas antes mesmo do casal ser preso, muita gente trocou os folhetins pela novela real. O caso Isabella virou um misto de novela com Big Brother e Você Decide – com direito a cartazes, gritos, xingamentos, apedrejamentos e ameaças de linchamento.
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De pessoa física a pessoa jurídica; sem falar também nos meios de comunicação – dos quais profissionalmente faço parte – houve acertos e exageros. Deplorável tudo isso. Mas esperar o quê, se vivemos num país com um conjunto de leis anacrônicas e sistema judiciário moroso?
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Hoje mesmo, o motorista com quem estava trabalhando disse: “Todo brasileiro tem direito a matar uma vez na vida; mata e fica preso pouco mais de oito anos, depois tá livre de novo...O bicho só pega se você matar pela segunda vez.”. Pense friamente e me responda se a lógica dele está errada? Ouvi isso de um cara de 60 anos, aposentado (mas ainda trampando), pessoa lúcida, cantor que não deu certo, alma de artista. Ou seja, se você está disposto a pagar atrás das grades um terço da pena máxima de 30 anos, privado apenas da sua liberdade (porque nós sabemos de muitos casos com regalias carcerárias) mas definitivamente longe de um desafeto, basta cometer um crime.
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Horrível, mas do jeito que a coisa anda, é isso mesmo. Nosso sistema de leis precisa de uma reforma imediata e nós o que fazemos? Nada! Vamos levando, com a barriga, até que um crime mais hediondo aconteça e nos ponha refém novamente em frente à tevê.
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Já a atriz Maitê Proença aproveitou a rodada do “Saia Justa”, o programa semanal em que participa todas as quartas-feiras na GNT, pra soltar em alto e bom som: “...o que acontece é que eles serão julgados, presos, e provavelmente serão mortos quando forem para a prisão...porque geralmente é isso o que acontece com quem comete um crime assim”. Também não está errada Maitê. Agora que estão novamente atrás das grades, percebe-se que não há lugar 100% seguro para o casal. As presas não querem a madrasta. Os presidiários também não querem o pai.
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A novela mórbida, tem telespectadores cativos, que torcem pelo único final que todos querem ver: nesse caso o mocinho não vai ficar com a mocinha. Nem os vilões atrás das grades.
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Se estivessem em Krypton, o planeta de origem do Super Homem, ambos seriam banidos de vez, presos numa figura geométrica que planaria pra sempre pelo universo. Lembra da abertura do filme, com Marlon Brando no papel de Kar El, o pai do superman, chefe do conselho de Krypton, responsável pela aplicação da lei?
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Acontece que não estamos nas HQs. A vida é mais dura. E para eles, a vida em comunidade não existe e nunca mais vai ser a mesma. Seria melhor se estivessem em Krypton. Na real, acho que Maitê – que nem profetiza é mas conhece televisão e telenovelas pra caramba – cantou as pedrinhas: os vilões (na falta de outros) serão punidos no final. E não será surpresa pra ninguém se o casal tiver uma morte terrível.
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Mesmo sem os criminosos, até Krypton entrou em colapso e explodiu.
Tem manhãs que tenho essa impressão quando acordo e vejo tanta desgraça que nunca cessa. E tantos sinais, cada vez mais evidentes, de que estamos fora da órbita.

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1 Comentários:

Blogger Marta De Divitiis disse...

Acho o crime hediondo e a cobertura da mídia medonha!!!! Quando não havia nada a respeito do laudo policial vi inúmeros apresentadores conjeturando hipóteses, entrevistando "o vizinho do advogado da professora da menina"...A entrevista do casal na Globo foi quase uma apresentação do que eles queriam falar, sem nada de perguntas, um horror!!! Achei que a entrevista da mãe foi apelação, justamente no dia das mães... Acho tudo um horror!!!

14 de maio de 2008 às 18:05  

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