quarta-feira, 23 de abril de 2008

Sobre HIV, minha falta de intimidade com o café, a "beleza real", a morte e outras coisas que me decepcionam


Hoje foi um dia de agenda lotada. Manhã, tarde e noite repletos de eventos. Havia me comprometido e, como não gosto de passar por tratante, fui conferir as novidades.
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Primeiro, lançamento de café pela manhã na Nespresso. Cheguei perto do meio dia na lojinha que fica ali no jardins. Superagradável, uma recepcionista negra, linda, num vestido Neon incrível logo à entrada.
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Nem sou muito fã de uma das bebidas mais consumidas pelos brasileiros. Descobri que só ficamos atrás dos norte-americanos em matéria de consumo. A situação, segundo os especialistas que estavam lá, deve ser alterada na próxima meia década. Chegaremos ao topo e seremos os maiores beberrões de café do planeta. Ok, pelo menos café não é alcoólico.
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Goroka, o café de edição limitada,original da Papua Nova Guiné, tem sabor frutado. Provei e confesso que realmente gostei. O problema foi ter que descrever o sabor na pequena roda de experts que me ladeavam.
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Também gosto de vinho; de beber vinho; de ficar leve com o vinho e revelar minhas verdades com a bebida de Baco. Mas não sei a diferença entre um cabernet sauvignon e um chardonnay. Já bebi até vinho barato que me deu barato rsrsrsrsrs.
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Muitas vezes pensei em fazer um curso já que (virou hype) quase todo mundo bem informado tem de saber algo sobre vinhos. Pra mim, parece um tanto esnobe; coisa de quem está tentando entrar na lista dos ultrapassados metrossexuais. Pra mim é bem mais simples: gosto ou não do vinho e ponto. daí continuo bebendo ou paro na primeira taça.
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Ok, me perdoem os que realmente curtem e entendem o tema. Pra estes, até indico o curso da Espaço Home (custa R$ 450 e as aulas são ministradas por Waldir Gandolfi – Presidente do Conselho da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho; informações no www.espacohome.com.br), sugestão que me chegou via e-mail de um cliente da Livia.
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Voltando ao assunto: tentem imaginar minha cara ao descrever o sabor do café, bebida que tenho ainda menos intimidade que o vinho. Respirei fundo e, como acontece nas situações que me perguntam sobre vinho, respondi: hmmmmmmmm...é suave (pausa)...tem um sabor bastante agradável (pausa)...é muito marcante (pausa)...e tem personalidade (a cereja do bolo na hora de arrematar minha ignorância no assunto)
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Deu tudo certo. A conversa foi agradável. Me despedi e saí atrasado para o lançamento de mais uma linha das sandálias Góoc no Hotel Unique. Esse capítulo realmente vale a pena e vou comentar na próxima postagem. Conheci Thai, um vietnamita que está há 29 anos no Brasil, empresário incrível; gente boa. Se nosso país tivesse mais uma dúzia de pessoas especiais assim certamente teria um outro destino.
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Próxima parada: uma casa de eventos na Vila Olímpia, onde O Boticário apresentou suas novidades para o Dia das Mães e o Dia dos Namorados. Destaque para uma vela aromática que, ao derreter, transforma-se numa espécie de pomada para ser aplicada sobre a pele. Bacana né? Gostei das três sugestões: da vela, da pomada e do terceiro elemento (que fica sugerido nas entrelinhas rsrsrs)
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Pausa. Voltei pra casa. Respondi e-mails, tomei uma ducha rápida e me preparei para o derradeiro evento do dia, ops, à noite: a apresentação da coleção Rosa Chá, em parceria com a Dove, na Casa de Portugal lá na Liberdade.
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O lugar é lindo. Valeu a pena o esforço pra sair de casa depois de me ausentar violuntariamente do mundo da moda por um longo período. A supresa da noite foi ver Fernanda Montenegro, em carne e osso e voz, abrindo o desfile com um discurso a favor da “real beleza”, exaltando negras, morenas, loiras, ruivas, orientais, curvilíneas, lisos e cacheados. Ela arrasa mesmo! Prendeu a atenção de todos. E cá entre nós, ela sim é a real beleza em pessoa: charmosa, elegante, um carisma sem igual.
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A coleção é bacana. Trouxe peças com referências geométricas; cores invernais bacanas (verde militar, roxo, pele, rosa...), muitas estampas, misturou estilos, formas (construídas e desconstruídas) e comprimentos sem perder toques de sensualidade que se espera de uma marca badalada pela sua moda-praia.
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O problema é que o discurso pela “real beleza” feminina se perdeu no casting que teve uma modelo ruiva, peituda e mais gordinha, duas negras (uma delas a atriz/cantora/performer, Thalma de Freitas), uma oriental, e menos de 6 que certamente já haviam passado dos 30.
As demais, eram modelos novas e antigas, do naipe de Sabrina Gasperin e das gêmeas Bittencourt. Altas, magras, quadril 90...lindas e quase irreais.
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Tá, teve ainda a cantora (mignon) Claudia Leite , e a roteirista/apresentadora Fernanda Young, com cara de quem soltou pum - a mulher tava medonha e sofrível em cima do salto agulha. Uiiiii!!!
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Apesar do cansaço, a noite até que teria terminado bem. Tava achando graça da conversa a respeito do cachê da Fernandona para estar ali. Um diz que diz ao redor:
-Acho que ela ganhou uns 40 mil...
- 40 mil, tô dizendo, e a Cláudia Leite, 20 . Eu sei com certeza...
-Imagina gente, vocês estão malucos. Estes cachês não existem mais...As empresas já não pagam tanto assim...

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Acontece que além do blá-blá-blá sobre valores, na fila do estacionamento encontrei uma profissional do métier jornalístico de moda. Não preciso revelar nomes porque a situação a seguir me parece mais corriqueira do que se imagina. Infelizmente.
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Há pouco tempo, faleceu repentinamente, um jornalista de moda bastante conhecido. Também o conhecia, mas nunca fomos próximos, apesar de termos trabalhdo pouco tempo juntos numa publicação nacional. Certa vez chegamos a ter nossas pequenas divergências, nada que abalasse nosso tratamento formal. Morreu jovem.
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Apesar do temperamento difícil, tenho de reconhecer que seu texto, sua inquietação e
paixão pelo mundo da moda eram inquestionáveis. Além do mais, esteve em veículos importantes da área. Construiu uma carreira bacana.
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A pessoa começou com aquela cara de espanto, comentando o fato como se fosse uma novidade: “Que coisa que aconteceu com ele, tão rápido né? Ninguém tava esperando....”
Acho que intui o que viria a seguir e quis cortar o assunto. “Pois é! Não éramos próximos, mas sinto porque era uma pessoa jovem, cheia de planos”, respondi meio seco pra encerrar por ali.
Ela seguiu em frente. “Então menino...será que foi Aids?”
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Aquilo foi mais que curiosidade. Se fosse, seria um tipo de curiosidade mórbida, afinal já faz quase um mês que tudo aconteceu. Havia algo na voz, no tom, que não soube explicar, mas me deixou enojado.
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A quem importa saber se beltrano ou sicrano morreu em decorrência da Aids depois de já ter morrido? Que diferença isso faz na minha ou na sua vida? É só mais um detalhe: essa maldita doença não diz nada das ações ou dos sonhos e construções de ninguém. Nem mesmo dos traços de caráter ou da maldade de cada um...Doença alguma diz.Pode até mostrar alguns traços, rastros, mas jamais diz tudo.
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Tive um tio, pessoa bondosa, pai zeloso, criou doze filhos, mas era fumante incorrigível. Essa pessoa doce morreu urrando de dor, entubado em decorrência de um câncer de laringe.
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Assumidamente, tenho um amigo que, aliás, mudou radicalmente de estilo de vida e até de cidade quando descobriu ser soropositivo. Sumiu no mundo, nunca mais ouvi falar. Posso ter outras pessoas ao meu redor que também sejam portadoras sem que eu saiba - provavelmente encurraladas no silêncio porque ainda este estigma pesa sobre eles.
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Será que um vírus realmente tem a capacidade de reduzir a vida humana a um comentário deste tipo? Fala sério.
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Não faço apologia de nada. Mas é horrível saber que as pessoas ainda mantêm seus pré-conceitos presos numa jaula sem travas, prontos para saírem daí na primeira oportunidade. Péssimo quando se trata de alguém que nem mais neste plano esta.
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Na verdade, ela só exteriorizou o que boa parte desta gente rasa da moda (mas que não existe só na moda) pensa, ou suspeita ou leva adiante. A memória de alguém talentoso ficou resumido a isso: se morreu ou não com as letrinhas não importa o que tenha feito, escrito, dito, pensado...
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Não que isto conte ou importe para quem já se foi deste plano, mas para as pessoas assim, que ainda estão por aqui, a "imunidade moral" parece só valer para grandes como Cazuza, Renato Russo,Fred Mercury...Tenho certeza que a vida é bem mais do que isso e, por falar neles, as atitiudes e obras inconformadas de tais gênios ajudam a comprovar. Victor Hugo, o grande poeta francês, tem uma frase bárbara:"Morrer é quase nada. Difícil é não viver".
Vá em paz!

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2 Comentários:

Blogger Nati* disse...

Vc é muito querido! Amei o post sobre os lançamentinhos e sobre o HIV.

Todo mundo quer uma justificativa para a morte, né? Ninguém aceita o fato de que um dia a gente tem que morrer. E que a doença, um acidente ou algo do tipo são apenas um dos mecanismos para que isso aconteça.

Beijos e boa semana,

Nadalie (ainda resfriada)

27 de abril de 2008 às 20:26  
Blogger Marta De Divitiis disse...

Querido, tem toda a razão... Não importa do que se morreu se a morte chegou... Que diferença faz???

30 de abril de 2008 às 17:54  

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