segunda-feira, 7 de abril de 2008

Se espremer, sai sangue. Mas fazer o quê se isso também faz parte do México




Tá, vou apenas levantar a hipótese já que não tenho como fazer um tratado antropológico.
Antes dos espanhóis chegarem ao México, no período pré-hispânico, os sacrifícios aos diversos deuses eram bastante comuns entre as centenas de povos que habitavam aquele território. Para os Aztecas, por exemplo, os sacrifícios dos mais fortes guerreiros eram uma constante. Com uma machadinha feita da pedra obisidiana, os homens eram degolados e seus corações eram retirados em oferenda aos deuses, que, entre outras coisas, garantiriam com isso a fertilidade da terra

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No México também é comum o culto das Catrinas, as caveiras/esqueletos acompanhadas por um gato e uma outra caveira masculina, que representam a morte. Coloridas, muito sexy, elas são celebradas e estão entre as peças mais comuns e caras do artesanato mexicano. Dizem que, por tudo isso, os mexicanos não têm mesmo medo da morte e a celebram com vontade. A morte faz parte da vida e ponto.

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A introdução é para chegar ao ponto. Principalmente para quem acha que o televisivo Aqui Agora (de volta à grade do SBT) e o extinto jornal Notícias Populares eram o máximo do jornalismo sensacionalista que se tem notícia.
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Inevitavelmente quem pensa assim vai levar um choque nas bancas mexicanas. Aliás quem tem estômago fraco tem mais é que passar reto e nem olhar.
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Exposto nas bancas e vendido até mesmo dentro do metrô mexicano, o jornal diário Metro traz de tudo um pouco. Desde que seja lavado em sangue. É o sensacionalismo levado às últimas conseqüências meeeeeeessssmo. Tem gente degolada, cadáver queimado, violência, tragédias, cenas horríveis que acabaram em morte...
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Quem prestou atenção primeiro foi o Itamar, da Zero Hora, quando visitávamos Querétaro, uma cidade há algumas horas do DF. A manchete do dia trazia a história de uma garota de programa espancada com uma barra de ferro pelo namorado stripper.
A foto da jovem inerte, jogada sobre umas montanha de papéis, roupas sujas e outros objetos de um moquifo qualquer da Cidade do México era de arrepiar. Parecia ter sido feita minutos/segundos após o último suspiro da coitada.
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A moça estava apenas de calcinha e com um top minúsculo. As peças pequenas deixavam à mostra os hematomas pelo corpo e o rosto deformado pela pancadaria. Um figurino dos infernos; até parecia irreal; com ares de tudo produzido para aquela foto...Infelizmente, não era.
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O Metro é , colorido, formato tablóide, papel normal...Custa pouco e deve vender como água. E o pior, é que você se acostuma; ele fala diretamente aos chacras básicos, entende?
Você sente uma compulsão em observar a tragédia alheia; o sangue, o “modus operandi”, os detalhes, é algo estranho.,,
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Depois do caso da moça, ainda vi um carro que foi feito sanduíche depois de capotar e bater num muro; no dia seguinte, corpos carbonizados noutro acidente ...
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No penúltimo dia, quando deixávamos o bairro de San Angel para irmos à Casa-museu de Frida Kahlo, estava procurando uma banquinha pra comprar uma água ou um refri que atenuasse o calor. Dei de cara com a manchete: “Esquartejou o tio que o violentava quando criança”. A foto (horrível) reforçava o título e mostrava detalhes do que restara do cadáver. Ao lado, o sobrinho no momento em que foi preso.
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Chamei o Itamar pra mostrar-lhe a capa, mas ele se recusou. E tampouco queria saber da história. Não deixou que falasse uma palavra a respeito; Disse que ficaria impressionado. Foi quando me toquei que isso pega. Se você não se policiar, isso pega messssmo. Isso porque a vida pode se tornar um teatro dos horrores: num dia você assiste e no outro pode ser um dos personagens; To fora!!!!!!!!!!


P. S . Óbvio que não mostraria as capas do sanguinário jornal Metro. Em compensação, as Catrinas (esqueletos ícones do folcore e do artesanato mexicanos) lidam e simbolizam a morte de maneira bem mais divertida

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3 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Joni, vc vivei momentos emocionantes no México. Os crimes violentos sempre chamam mais atenção... os Jornais fazem questão de começar suas notícias com matérias de polícia para vender mais. Isso impressiona, chama a atenção, mas também apavora... Do que o ser humano é capaz diante de maus-tratos, do perigo e algumas vezes por simples maldade.
Caro amigo, ainda bem que foram só manchetes... adorei suas impressões...
kisses,
Lena

14 de abril de 2008 às 09:08  
Blogger Marta De Divitiis disse...

Queridíssimo, lendo esse texto acho que estamos quase ali... Não temos fotos horríveis, mas ja viu o circo armado em torno da morte daquela criança? Tá certo que o crime é horrível e mais horrível ainda pensar que pode ter sido cometido por alguém próximo, mas não se fala mais em outra coisa, é uma overdose total,parece que o Brasil todo se esqueceu que ainda há outras notícias a se dar... Não agüento mais (o trema ainda subsiste??)

15 de abril de 2008 às 14:14  
Blogger Nati* disse...

Ai... Isso é tenso mesmo. A gente pode até ver e ouvir sobre a violência, mas dificilmente a gente se acostuma.

Amo o seu texto!!!!!!

Arrasa na good vibe.

Bjs*

19 de abril de 2008 às 14:18  

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