terça-feira, 13 de maio de 2008

Salaro x Poeta: dois pesos, duas medidas e o antagonismo do jornalismo nobre da Globo

Já que falei no caso Isabella, não poderia deixar de mencionar dois turning points do caso, ambos registrados pelo jornalismo da Rede Globo. Vou analisá-los sob o prisma jornalístico que me chamou a atenção.
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O primeiro foi a entrevista do casal a Walmir Salaro, repórter policial experiente com coberturas importantes no currículo. Diante do pai e da madrasta (que me recuso escrever aqui os nomes) acusados de terem espancado, esganado e jogado uma criança da janela do prédio onde moravam, uma entrevista xoxa. Serviu mais para que ambos, distantes entre si a entrevista toda, posassem de casal feliz, e por fim se derramassem em (poucas) lágrimas.
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Em nenhum momento foram confrontados. Falha grave do repórter que, naquele momento estava no lugar onde qualquer jornalista gostaria de estar: no olho do furacão. Só ele havia conseguido, ninguém mais. A sensação que se teve foi a de que Salaro abriu o microfone e deixou ambos falarem à vontade. E sob a supervisão dos advogados presentes
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Se fez perguntas mais fortes, elas ficaram na edição. Se não fez, pra mim , pecou. No entanto, é desses casos em que o furo está muito mais na exclusividade do que na obtenção de algo mais contundente.
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A pergunta mais forte foi em relação ao fato principal (e que mais chocou a nós todos), o fato de ambos terem sido acusados de matar a pequena. Eu mesmo gostaria de saber várias outras coisas, por exemplo: o que o pai faria se visse a madrasta batendo na pequena; o que sentiu quando Isabella nasceu e quando ela morreu; que pena merece o assassino de sua filha; porque não prestaram os primeiros socorros ...Muito mais coisas poderiam ser questionadas mas não foram.
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Aí então, dias depois, mais um fato relevante - o segundo ponto de virada: a entrevista de Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella, também com exclusividade à apresentadora, Patrícia Poeta, no Fantástico.
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Dias antes, Poeta havia entrevistado Ronaldo Fenômeno sobre seu envolvimento com travestis. Depois de uma substituição controversa de Glória Maria no comando da atração, Patrícia mostrou sua personalidade bastante serena ao entrevistar. E cria empatia com o entrevistado.
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A entrevista deu recordes de audiência no ano para o Fantástico. Ela esteve bem. De cara perguntou á mãe (mais do que vítima) se ela sabia que seu comportamento um tanto distante diante da tragédia havia sido confundido com frieza. “Quando a ficha caiu?”, perguntou à queima-roupa.
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A entrevista ainda teve mais pontos altos e emocionantes. De tirar o fôlego e comover os corações mais gélidos. Também abriu o microfone e deixou-a falar. Mas interveio em muitos momentos. Não gostei de Patrícia em 3 momentos, mas vou citar dois aqui: quando a mãe, emocionada, perdeu a voz por alguns segundos, primeiro ela disse “respira fundo, respira fundo ....”. Na segunda vez, minutos depois, deu apenas um tapinha na perna da entrevistada como que chamando-a às câmeras.
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Enfim, foi uma boa entrevista, que me deixou, como telespectador, sabendo bem mais do que o lead. Mas, sem saber qual o caminho escolhido pela Globo diante de tanto poder e exclusividade.
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Por essas e outras, gosto do telejornalismo norte-americano. Na CNN por exemplo, repórteres emitem opiniões, seus conhecimentos e, muitas vezes, até mesmo ideologias propagandeadas por seus veículos.
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Melhor assim: tudo as claras e sem meias palavras e ponto final.

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1 Comentários:

Blogger Marina Melz disse...

tive uma opinião diferente sobre a Poeta. pelo conteúdo apresentadnas entrevistas, achei ela muito mais menina bonita do que repórter competente. mas aí é questão de jeitos de ver a coisa. prefiro a Glória Maria.

o que me espanta é que uma emissora tao grande, com um potencial de produção tão grande, deixe que uma entrevista com o casal mais falado da última década nesse país seja tão ruim.

15 de maio de 2008 às 16:36  

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