sexta-feira, 21 de março de 2008

É bom se preparar desde já: o preto vai dominar tudo nos próximos dez anos


Quando imaginei esse blog, há umas duas semanas, nem titubeei quando apareceram as opções de formatos lá no início do blogspot. Preto me pareceu o pano de fundo mais direto, coerente e agradável para o sobretudonoir. Foi fácil e rápido escolher.

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Minha surpresa maior foi saber, por uma expert em cores, que o preto é uma das tendências mais fortes para a próxima década. Detectada por estudiosos no assunto, deve se espalhar por tudo: moda, decoração, carros, esportes, lazer, e até na Internet. Hoje, existe até papel higiênico preto, pode???

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A idéia criativa foi da dupla de arquitetos Guilherme Ommundsen e Mariana Albuquerque que misturaram rolos pretos com outros com estampas de jornal, importados de Portugal, no banheiro masculino público dos estúdios na Casa Cor 2007.
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Ao lado do branco, a não cor foi a grande vedete do evento presente na maioria dos espaços internos e externos.

Papel higiênico preto, alguém já tinha pensado nisso? Na Casa Cor 2007, a dupla de arquitetos Mariana Albuquerque e Guilherme Ommundsen surpreendeu a todos com a proposta criativa





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E na 10ª. Edição da Semana Internacional da Cor, que aconteceu no vão livre do Masp no último dia 18, o preto novamente dominou a pauta do dia. O evento que apresentou a nova cartela de cores 2008/2009 do Cecal (Centro de Estudos da Cor da América Latina) também assinala os padrões e as tendências a serem adotadas em produtos dos segmentos da construção civil, arquitetura e decoração.

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Elisabeth Wey, designer de interiores e presidente do CBC(Comitê Brasileiro de Cores) lembrou, em sua palestra, que o Google Black está sendo um dos grandes disseminadores da onda pelo mundo. Não pela estética. Nesse caso, a ferramenta black economiza energia. Na decoração, há uns dois três anos, o designer Philippe Starck pode ser apontado como um dos maiores incentivadores da tendência. Foi ele que levou pela primeira vez para a feira Maison & Objet, em Paris, um lustre Baccarat todo em cristais pretos com apenas um, em vermelho. Não só virou objeto de desejo como tornou-se um “turning point” inspirador no mundo todo. Hoje, o seu Chandelier Zenith (foto no alto) tem considerável fila de espera.


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Aliás, Wey explicou porque o preto está bombando em tudo, cada vez mais. “ A época atual inaugura um momento denso e intenso, onde a política do sonhar é mais do que nunca uma necessidade interior de segurança e proteção”, diz.
Para exemplificar, ela lembra as danceterias atuais, projetadas para serem totalmente escuras, verdadeiras “caixas-pretas” com iluminação pontual. Nesse caso, também é para diminuir o consumo de energia. “São as pessoas que precisam brilhar, o espaço se torna neutro...”, diz.

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O preto faz parte da tendência "Ludis", onde dominam os grafismos, os sonhos, a diversão e o lazer. O tema aproxima-se do surreal, com imagens muitas vezes assustadoras, deformadas, oníricas. Ela cita o filme “Encantada”, de Kevin Lima, como um dos referenciais mais importantes para quem quer entender melhor o assunto. Por minha conta e risco, acrescento o impressionante filme “O Labirinto do Fauno”, de Guillermo del Toro.

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Outros temas levantados pela pesquisadora do são o Ecoton (com força para uma gama diversa de verdes e outros tons que remetam à natureza); Neo Golden (espécie de barroco contemporâneo que ressalta os dourados e brilhos) e MaxiMini (o clean atual,que valoriza os excessos e os contrastes, com força novamente para o preto).



Á esquerda, Susan Sarandon, como a rainha má de "Encantada", referência importante na volta e ascenção do preto em tudo; abaixo, cena de "O labirinto do Fauno" de Guillermo del Toro. Cenas oníricas e surreais dominam o tema Ludis









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Segundo Elisabeth Wey, uma tendência tem vida útil de mais ou menos uma década a partir do momento em que é detectada. No momento, as maiores preocupações mundiais são a sustentabilidade e a economia de energia. Ou seja, todo mundo quer ser ecologicamente correto mas não abre mão do conforto. O desafio está lançado, e parte dele, o preto resolve. “Todo mundo se preocupa com o aquecimento global; o desmatamento e outros temas importantes, mas ninguém quer desligar seu ar-condicionado, nem diminuir o banho de água quente...”, diz.

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O preto está em alta porque a violência também é crescente e assustadora; o sentimento de insegurança é dominante. É uma época de incertezas e mudanças que depõe contra a ostentação.

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Outra característica do comportamento atual é a "sociedade peterpanizada", que se recusa a crescer. Só que a conhecida Terra da Fantasia do conto, se transforma na Terra Além dos Limites na nossa realidade. Nela todos querem ultrapassar a barreira dos extremos.

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O resultado é o escapismo em busca de refúgios exóticos. Surge um realismo imaginário que insere sonhos na vida das pessoas e exige uma certa dose de mistério. A única certeza é que todos continuarão sonhando com um teto só seu como proteção contra a violência. Wey cita Gaston Bachelard: " O sonho é mais forte que a experiência"

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Mas o preto não é uma cor deprê, triste? Não estamos combatento este momento obscuro com mais elementos depressivos?
“Não. Hoje o preto é um sentimento globalizado. Ele anula; cria um cenário sem expressividade que não provoca emoções”, diz Wey. “Além do mais ele é o fundo, mas sempre está pontuado por cores, o que muda seu caráter”.


No convite para o lançamento da coleção 2008 da Bertolucci, a não-cor é sugerida como pano de fundo ideal para ressaltar as cores vivas das luminárias


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A expert lembra que não existe um preto e sim uma gama de pretos que incluem desde os cinzas chumbos até o preto mais escuro. Segundo dizem, são mais de três dezenas de variações da não cor. O designer Gilberto Cioni resolveu atualizar a decoração e tirou proveito de algumas delas em seu novo apartamento. O resultado é surpreendente.





Bom exemplo da força atual do preto, o apê bacana do designer de interiores, Gilberto Cioni, é todo preto, branco e cinza. O projeto arrojado aposta nos opostos e tem como resultado um décor masculino e supercontemporâneo com grande variação de tons e texturas escuras

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Tenho que confessar que essa não cor me fascina desde os anos 80, quando passei minha adolescência morando no bairro mais alternativo de Porto Alegre, o Bom Fim. Naquela época, punks, darks e góticos dominavam a Oswaldo Aranha, a avenida principal do bairro, com suas estéticas extravagantes. Mesmo à luz do dia, grupos e mais grupos se reuniam nos bares e ao redor das danceterias espalhadas pelo lugar. Embora não fizesse parte de nenhuma tribo, ficava fascinado pelo visual e atitude deles. Adorava The Cure, Siouxie & The Banshees, Smiths e...muito preto. Gostava muito mais do que o colorido da New Wave. Claro que o clima, principalmente o do inverno gaúcho, ajudava muito. Sobretudos, luvas, corturnos...eram o máximo as noites do Bom Fim, com aquela população flutuante, que vinha de todas as partes da cidade para se encontrar nos fins de semana por ali mesmo, num bairro tradicionalmente judeu.

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O tempo passou e o Bom Fim foi substituído pela Cidade Baixa, mas os punks e góticos já não aparecem por lá. Pelo menos não quando passo pela cidade em temporadas bem mais curtas do que gostaria. O poder do dinheiro pode ter vencido. Mas, o preto sombrio e taciturno, tem vida longa. Mudança dos tempos, agora ele já não assusta mais, está associado à segurança.

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Talvez por isso também não tenha titubeado quando, depois de voltar da Casa Cor 2007, resolvi trocar uma parede vermelha do meu apartamento por uma preta. Gostei tanto do resultado que acabei pintando mais duas.

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1 Comentários:

Blogger Marta De Divitiis disse...

Adorei esse texto... Também fã da não cor, acho extremamente elegante... Na moda, na decoração... Combinada com outras tonalidades, ganha nova leitura, novas intenções...

21 de março de 2008 às 16:34  

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